quarta-feira, 17 de julho de 2013

Viktor

A noite chegava de mansinho. Sentado no jardim de sua casa, Viktor perdia-se me pensamentos entre um e outro copo de vinho. As estrelas começavam a iluminar os céus, preparando a chegada da Lua que chegaria esplendorosa e brilhante.
O coração de Viktor era totalmente contrário ao ambiente que o rodeava. Perdia-se, o seu coração, em recordações e pessoas que passaram e permaneciam na sua vida. As saudades preenchiam muitas vezes as noites de Viktor. Amava pessoas, perdia-se em momentos de júbilo. Mas a solidão era companheira constante: na maioria das vezes desejada, na minoria indesejada.
Sentia saudades das pessoas, daquelas que as marcavam inteiramente. Por vezes não conseguia distinguir os sentimentos que tinha pelas pessoas. Amava uns, odiava outros.
Mas havia aqueles em que o seu sentimento era maior. Viktor perdia-se no seu jardim em pensamentos. Era-lhe tão difícil expressar os sentimentos de seu coração.
A Lua brilhava intensamente e os olhos de Viktor reluziam com as lágrimas. Sentia fortes emoções, mas de que valia. A ausência apoderava-se de si. Sentia a saudade.
Havia algo em si que não sabia explicar. Seria amor, seria paixão? Não lhe conseguia associar nenhum nome, pois os sentimentos há muito que desapareceram do seu vocabulário. Camuflava-os com muita coisa, e difícil era sempre conseguir compreende-lo. Engasgava-se nas palavras, suavam-se-lhe as mãos, o coração palpitava sempre demais. Então escondia o que sentia, tentava ser um ser sem coração, sem alma. Gelado como o gelo, frio como o inverno mais rigoroso. Quem o conhecesse à primeira impressão diria que era um negro ser, como a noite mais escura, no vale mais profundo, onde nem os mais fortes raios da lua conseguiam chegar e os raios de sol pouco tempo por ali se perdiam. Mas não! Viktor conseguia ser a pessoa mais doce, mais carinhosa, máis atenciosa. Só era preciso conquistarem-lhe o coração. Mas até isso era difícil neste momento. Sofrera muito com alguns que lhe haviam transformado o coração de pedra em coração de cristal. Viktor não se permitia novamente a sofrer isso e limitava todo o acesso ao coração.
As estrelas reluzentes no céu voltavam a relembrar os sentimentos que lhe preenchiam o coração. Era uma mística de grande saudade na ausência, de eterna alegria na presença; era o entregar-se totalmente sem esperar retorno, amar continuamente. Os seus olhos brilhavam mais na sua companhia e escureciam-se mas na ausência. Todos os dias pensava nesses do seu coração, a todo o momento desejava vê-los de novo.
A noite ia avançada quando Viktor pousou por fim o copo, levantou-se e passeou pelo jardim. Na penumbra da noite parecia-lhe ver aqueles que ele queria ver. Mas eram somente sombras. Mas isso não o fazia tremer. Sabia que por maior que fosse a distância nada mudaria o que ele sentia, pouco mudaria a relação que existia entre ambos.
Entrara em casa, fechara as cortinas atrás de si. Deitara-se na cama, fechara os olhos e sonhara. Entrava no seu coração, reconhecia os seus cantos e o que lá residia. Seria feliz, certamente, porque o seu coração estava em júbilo.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Amanhã!

É fim de tarde. Estou sentado numa esplanada perdida entre a Estrela, o Caramulo e a Gralheira. Os meus pensamentos levam-me para longe, para locais perdidos na minha mente.
As lágrimas correm o meu rosto. Sou assim, apegado às memórias do passado. Já o não posso evitar.
Não sei se são lágrimas de tristeza, dor ou saudade. Não sei porque correm.
Olho as andorinhas que voam no céu. Invejo-as. Queria ser livre de voar, percorrer o mundo sem apegos.
Estou cansado de tanto lutar, de tanto fazer. Mas nada disso importa. O esquecimento cai sobre nós bem mais depressa do que aquilo que pensamos ou desejamos. Tudo é passageiro e só resta viver cada momento com intensidade.
Agora sou uma simples caminhante neste mundo tão incerto. Um caminhante que deambula pelos caminhos, em direcção ao horizonte. Sou um caminhante na sombra à espera de ser lembrado. Mas tão certo é eu sair da sombra em momentos de necessidade como o sol voltar a nascer amanhã.
Alguns dizem-me que é o destino. Mas eu deixei de acreditar nessa predisposição das coisas que irão acontecer quer queiramos quer não. Pergunto-me até se não será defeito. Talvez. Advogado em causa própria nunca é bom.
Levanto-me e sigo o meu caminho. O céu ainda arde com a despedida do sol. As pessoas atarefadas correm a meu lado. E eu ao lado delas corro atarefado. Somos todos iguais neste mundo de diversidade. Talvez sim, talvez não.
A incerteza é o meu pior inimigo.
Aprendi a viver. Comecei a conhecer o mundo onde vivo, as pessoas que me rodeiam. As palavras que hoje dizemos são tão efémeras que uma simples rajada de vento leva-as para longe. Só os actos importam. A capacidade de se comprometerem tornou-se tão leve que voa juntamente com as palavras. Mas ainda existem excepções. Mas tudo é tão difícil.

Reclino a cabeça na almofada. Fecho os olhos e relembro que amanhã será um novo dia. Amanhã uma nova esperança, novas coisas para aprender. Amanhã. Haverá sempre a esperança de um amanhã!



Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa