domingo, 30 de janeiro de 2011

Prisão

Existem coisas que só temos noção delas quando as vivemos de perto. Sem essa vivência, somos meros ignorantes a falar daquilo que não sabemos.
Hoje visitei pela primeira vez um estabelecimento prisional. Não conseguia imaginar o que era, apesar dos inúmeros filmes sobre estas casas.
O meu coração palpitava muito rápido.
Não sei o que sentia, se ansiedade se nervosismo; se era medo ou segurança. Sei apenas que era um poço de sentimentos.
Entrei por aquelas portas, sem saber ao certo o que iria encontrar.
Quando deparei com as suas caras, tive medo. Parecia que estava num ninho de vivoras. Não sei qual era a reacção daquelas pessoas. Não sei ao certo o que eles sentiram. Era impossível ler-lhes os olhos.
Arrumámos as mesas e preparámos aquele que parecia um refeitório para a celebração da eucaristia.
O chão estava imundo, as condições eram poucas.
Naquela sala nada transparecia felicidade, sem ser aquele telefone preso na parede. Aquele ao qual todos recorriam, como seu único contacto com o mundo.
Um ar pesado se respirava naquela sala.
Sei perfeitamente que uma prisão não é um local de felicidade, mas pensei em encontrar algo diferente. Que eles fizessem daquele espaço, que é agora a sua casa, um clima de bem-estar. Mas não. Tudo o que transmitiam era um puro mal-estar.
Quando se falou na missa, a única coisa que se ouviu entre os dois ou três que estavam na sala, foi o de não haver miúdas.
Como será possível? Ao estado que chegou a mentalidade dos reclusos, à sua necessidade.
Mas, e por incrível que pareça, quando o guarda anunciou para aquele que eu suponho ser o pátio, que a missa iria começar, a sala ficou com umas vinte pessoas, contando comigo, o “guitarrista”, o padre e o guarda.
Agora conseguia ler nos seus rostos a paz, a alegria de ter um contacto com Deus. Na sala, uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, “brilhava” sobre eles, levando-os até a sorrir.


Quando chegou a altura de se distribuir a Sagrada Comunhão, raros foram os que comungaram, mas acredito que, os que o fizeram, fizeram-no com consciência.
Antes de o padre dar a despedida, desejou-lhes um bom Domingo e muita coragem. Uma voz, na sala, surgiu baixinho, com um simples e sincero “obrigado”.
No fim da missa, o meu olhar recaiu outra vez sobre os seus rostos. Alguns novos, outros de meia-idade, outros velhos.
Olhando os seus rostos, questionava-me sobre que crimes teriam sido eles julgados. Pensava e pensava, mas tudo me parecia incerto. Tudo me parecia errado, e eu, na minha pequenez, não sabia o que dizer. Apertava as suas mãos, dando-lhes um sorriso, mas incapaz de pronunciar palavra, por dentro, sofria. Sofria por e com aqueles homens. Que sofrimento iria nos seus corações?
Ah, surgiram tantas questões, tantas tristezas. Como gostaria eu de levar algum sorriso àqueles homens… Mas sinto-me pequeno, minúsculo, incapacitado.
Por fim, um dos reclusos, que fora o que lera a leitura na missa, encarregou-me de transmitir um recado. E esse recado, nas suas palavras, pareceram-me uma súplica, um pedido de ajuda. Aquele homem, cujo nome não interessa, pedia ajuda com os olhos, pedia ajuda com as palavras, com a cara e com os gestos. Um homem, que no meio de tantos outros, sofria como eles, mas pedia socorro.
Hoje, rezo por eles. Amanhã e para sempre, rezarei por eles.
Agora estou no café, onde um homem sem nada, me trata por doutor.
Sim, é engraçado, mas o meu pensamento está com os reclusos.
Quando me sentei, este homem que está à minha frente, pediu-me o caderno onde escrevo estas palavras. Pegou nele e escreveu as seguintes palavras:
“Dr lhe pesso perdão
Do fundo do coração.
O benfica fica assim mesmo
Da maneira que nós estamos
Cada 1 em seu lugar
Para bom apetite assim desejar
Kim Book
Jumba”
Sim, sei que tem erros, mas quis transcrever tal e qual como ele escreveu.
O mundo pede socorro, grita por ajuda, e eu, nada posso fazer a não ser rezar por eles.
Antes de eu partir, Kim Book Jumba escreveu-me estas palavras:
“Enquanto to no meu canto eu assim atão eu canto encanto de canto em canto por isso por enquanto eu estiver aqui no meu canto nada faço para encantar por isso não ponho pontes senão acabam os desencontros assim fica o meu canto eu assentado aqui no meu canto e vai então por encanto um simples ponto final”


Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Linha do tempo

Há muito tempo que não escrevo. Época de exames é no que dá. Mas agora, que tive um tempinho, decidi falar-vos.
O tempo passa e nós, por vezes, nem damos conta de ele passar, e depois, revemos tudo o que está para trás, com a nostalgia e o gozo de uma vida repleta de alegrias e tristezas, de termos tido a oportunidade de nascer no século passado, de vermos coisas de formas diferentes.
Mas não é disso que vos falo hoje. Já escrevi sobre isso, (podem ver aqui) e num outro blogue podem também ler acerca disso (aqui).
O que vos falo hoje é da linha da vida.
No encontro do Pré-Seminário que fiz com os jovens pré-seminaristas no Natal, realizámos uma linha do tempo.
Hoje, enquanto dava um jeito no quarto, ela saltou-me à vista. Reli-a e recordei. Uma folha A4, não serviu para marcar os meus acontecimentos mais importantes todos.
Não, não vou fazer uma linha do tempo, mas propunha-vos que a fizessem.
Peguem numa folha A3 e façam-lhe um risco ao meio, ou se preferirem, dois riscos. Marquem o vosso nascimento no início e vão marcando os vossos acontecimentos mais importantes.
Vejam como é belo recordar. Por vezes, e no meu caso foi assim, acontecimentos menos bons também os marquei… Pois foram uma marca na minha vida…
Há também, outras formas de marcar a linha do tempo, fazendo um álbum de fotos…
Acreditem, que recordar é viver, e faz sempre muito bem…
Eu cá, como já repararam certamente, gosto muito de recordar… É algo que me faz muito bem, e me ajuda em muita coisa… Experimentem, e podem até partilhar nos vossos blogues…




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Concretizando um sonho

 
Hoje escrevo o meu centésimo post. E para o celebrar falo-vos dos sonhos.
O que é na verdade um sonho? É só um simples pensamento que possuímos quando dormimos?
Pois eu digo-vos que não. Um sonho é um desejo que temos dentro de nós e que tentamos que ele se torne realidade. Um sonho de uma profissão, um sonho de uma viagem, entre outros.
E que sentimentos possuímos quando concretizamos esse sonho? Que estado de espírito surge em nós?
Eu, falando por mim, tenho um sentimento de felicidade enorme, que me leva a estar sempre contente. O meu estado de espírito é expressivo, é de total prazer.
Mas há sonhos que não se concretizam de um momento para o outro, mas vão-se concretizando. Durante a vida vamos concretizando esse sonho, vivendo-o a cada dia que passa, até o concretizarmos plenamente. E quando isso acontece, sentimos dentro de nós um prazer total que nos acompanhará toda a vida. Não só no momento presente mas também no momento futuro. Olhamos para o passado com um sorriso, sabendo que fomos capazes de realizar o que queríamos.
Mas, por vezes, é necessário dar um grande passo para concretizarmos o sonho. Por vezes esse salto é penoso, com algum custo e chegamos até a não ter coragem para o dar. Mas é necessário que o realizemos porque, senão, viveremos sempre com a mágoa de não o termos conseguido.
E é essa mágoa que nos leva muitas vezes a sermos infelizes, a vivermos uma vida de sombra, infelicidade.
Por isso, neste centésimo post, desejo a todos os que lêem estas palavras, aos que têm sido leitores assíduos ou leitores acidentados, que se esforcem por realizarem os seus sonhos e que não tenham medo de o fazer, pois verão que será uma graça enorme.
Que as “partituras” que pautam as vossas vidas sejam um completo “sonho”.




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

domingo, 23 de janeiro de 2011

Eis a questão!

Bom Domingo!
Eis que hoje é um domingo diferente.
Para a Igreja Católica Apostólica Romana é o III Domingo do Tempo Comum! Mas também é o Domingo da Unidade dos Cristãos. É uma oportunidade para diminuir as diferenças entre as diversas Igrejas de Cristo. É tempo de incentivo para rezarmos por toda a Igreja de Cristo!


Mas para Portugal é dia de Eleições, e sobre esse tema não me vou prenunciar. Apenas digo para que exerçam o vosso dever de cidadão. Não deixem de votar!
_______________

Há coisas formidáveis e tão belas que seria impossível não se falar nelas.
Há uns dias, enquanto assistia a uns filme do Youtube do American's Got Talents, encontrei um tal de Prince Poppycock, que cantava uma música esplêndida.
Procurei por aquela música e eis que fiquei a saber que pertencia a uma obra de Rossini, chamada Barbeiro de Sevilha.
Por vezes sinto pena de neste país que eu tanto amo, que é o meu orgulho, (sim, sou patriota) não possua uma casa de espectáculos onde obras como esta passem. Se calhar sou eu que vivo na cidade errada.
Mas deixo-vos um cheirinho desta ópera de Rossini: O barbeiro de Sevilha.



Sem mais, desejo a todos um bom Domingo, e que exerçam o vosso dever de cidadão, pois só assim podem refilar!
Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

sábado, 22 de janeiro de 2011

Palavras a mais, silêncio a menos!

Existem coisas na nossa vida que nem sempre somos capazes de definir. Coisas que não se medem em palavras, mas sim em acções.
Hoje, enquanto fazia uma limpeza ao meu computador, encontrei um texto, um dos meus primeiros textos.

«Como se define o verbo amar? 
Será simplesmente umas palavras que usamos para que gostem de nós? E será que sentimos amor ou o que sentimos é obsessão pela outra pessoa? 
Pois é, hoje a sociedade não ama… fica obcecada. E amar é só outra pessoa de sexo diferente? Na minha opinião não. É necessário amar o próximo, como nos diz Jesus Cristo, como a nós mesmos. Não pensar só no prazer próprio mas sim no comum. É preciso ignorar os valores que a sociedade nos impõe mas valorizar os velhos valores. Ser-se compreensivo, deixar de refilar com as outras pessoas quando nós é que temos problemas. É preciso fazer silêncio, coisa rara hoje em dia. Passeio pela rua e vejo as pessoas sempre a falar ou com auscultadores nos ouvidos, impedindo que se oiça o grito de liberdade a abafar a libertinagem. Temos que ser nós mesmos. Sermos como nos ensinaram a ser.»

Engraçado que eu tentei ver quando tinha escrito este texto e não consegui. Mas na verdade ele continua actualizadíssimo. Nada mudou desde a altura em que escrevi este texto e agora.
Realmente, o amor é algo que não conseguimos definir, e a noção do dicionário é tão vaga que, uma pessoa que nunca tivesse sentido o amor, não o identificaria com a sua definição.
E quando falo em amor, falo em outros sentimentos, em outras coisas que na nossa vida não conseguimos explicar.
E há tanta coisa que não conseguimos explicar… E por vezes penso que há coisas que não se explicam. «As palavras são uma fonte de mal-entendidos», disseram-me uma vez. E como esta frase acarreta tanta verdade.
Com as palavras poderemos destruir uma pessoa; com as palavras podemos destruirmo-nos; com as palavras, afastamos ou aproximamos as pessoas. Uma palavra fora do contexto pode ser um mal interpretada.
Uma palavra escrita, compromete-nos!




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

The Last...

Há três meses, dei a conhecer a todos o início do primeiro semestre deste ano lectivo de 2010-2011.
Hoje comunico-vos que findou o primeiro semestre, que será seguido de duas semanas de exames.
Com o findar do semestre, foi oportunidade de se voltar ao lar, ao quentinho do seio familiar.
Mas, voltámos ao quentinho, não por causa do final do semestre, mas sim pelas eleições presidenciais. Obrigado.

Pois, muito mais gostaria eu de vos contar, pois tanta coisa tem acontecido.
Esta semana pareceu-me que tirei uma tonelada de cima de mim. Quem vive comigo sabe como eu andei durante duas semanas inteiras. Agradeço a todos os que compreenderam.
Pois é, fui levantar a TAC que tinha feito e fiquei a conhecer um pouco mais a minha cabeça. Lol. Desta forma já não podem dizer que não tenho nada na cabeça, pois eu tenho provas em como lá tenho o cérebro.


Com o começo da época de exames, os post's serão um pouco difícil, mas sempre que tiver um tempinho, virei dar-vos algumas mensagens, algumas loucuras, algumas novidades.... algumas "Partituras de um Sonho".
Até lá, desejo a todos os que se encontram em exames ou se irão encontrar, muita sorte e muito "queimar pestanas". Mas não se esqueçam de sonhar...


Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Pós-Manifestação

Cavaco Silva passou e Viseu pediu S.O.S..
Mil palavras poderiam descrever o que se passou, mas como referi no post anterior, não assisti à sua chegada.
Desta forma, e agradecendo ao Miranda, deixo-vos o vídeo de como tudo se passou.




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

S.O.S. - Save Our Souls

19 de Janeiro do Ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, 2011.
Saí à rua, depois de uma extensa reunião, com um único propósito: ver a cara de pau dos políticos portugueses.
Contudo, mal saí pela porta, ouvi manifestos e pensei: "Ainda bem que te encontro". É claro que pensei que era o nosso querido e amado Presidente da República, que se andava a passear pelas nossas ruas. 
Mas, quando dirigi o olhar em direcção aos gritos, reparei que não. Uma manifestação, com crianças e jovens, dirigiam-se para uma das principais ruas da nossa cidade: Rua Formosa. 
A fila da frente sustinha um cartaz negro, onde, em grandes letras brancas, se podia ler: "S.O.S". Aquilo intrigou-me, mas segui viagem, para ver se podia conseguia encontrar os viseenses de roda de Cavaco Silva e da sua esposa, sorrindo e gritando "És o maior!", ou aqueles que se escondem a cara na sombra e de longe, gritam o famoso "Vai-te embora".
Mas quando cheguei à Praça da República, local onde algumas pessoas se iam juntando, deparei-me que o cortejo só começaria depois das cinco, visto que o carro negro só chegaria às cinco.
Como não tenho a vida de muitos, tive de desistir da ideia, voltando para casa, sem conseguir cumprir o meu objectivo. 
Mas, a meio do caminho, encontrei um velho amigo e professor, que observava de longe a manifestação que tinha tomado posição ao fim da Rua Formosa, local onde iria passar o cortejo. numa troca de palavras, fiquei a saber que aquela manifestação, incorporava alunos do Colégio da Via-Sacra.
Descemos até à junto da manifestação, e falando com alguns conhecidos fiquei a saber que aquela manifestação tinha sido organizada pelos Encarregados de Educação dos alunos do Colégio da Via-Sacra e do Piaget.
Alunos sustentavam cartazes que diziam:
"Escola com contrato da associação = escola a tempo inteiro."
"Pela liberdade de ensinar e de aprender."
Os pais, vestiam camisolas brancas que contrastavam com os grandes cartazes do "Save Our Souls", que diziam que "A escola para o meu filho sou eu que a escolho".
Depois de mais algumas perguntas, soube que esta manifestação não era contra o nosso ilustre Presidente da República, mas sim uma demonstração de descontentamento.
Infelizmente não pude ficar para a chegada do Presidente da República e da Primeira Dama, mas gostaria de, como diz o verdadeiro português, "ser mosca".
Aguardo pela leitura das noticias da sua campanha eleitoral, amanhã bem cedo.










Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

Diferenças!

Preto e branco. Claro e escuro. Homem e mulher. Criança e velho. Diferente, indiferente.
Vivemos num mundo onde a diferença é constante. Tudo é diferente, tudo tem a sua essência, as suas características.
Até os gémeos homozigóticos são diferentes. Não possuímos na sociedade duas pessoas exactamente iguais.
Mas isso é bom. Imaginem vivermos num mundo onde tudo fosse igual, ao jeito de todos, que todos fizéssemos e disséssemos as mesmas coisas? Seria um puro aborrecimento. Não precisaríamos de conhecer ninguém, pois saberíamos logo que ela era igual a mim, e dessa forma, seria uma pura monotonia.
Mas as diferenças existem, e são elas que nos alegram. Eu ser diferente de ti, ele do outro, faz com que nos conheçamos, que aprendamos a viver com as diferenças dos outros, a tornar cada pessoa diferente e única.
Sim, podemos dizer que alguns têm os mesmos gostos, que fazem as mesmas coisas, que vivam de forma semelhante. Mas perante um acontecimento, cada um reage à sua maneira. E nisso, notamos muito as diferenças que existem de uns para os outros.
Eu sou adepto da diferença, adepto que cada um seja como é. Simplesmente custa-me que, alguns não saibam respeitar as diferenças que existem. Jogam, brincam, gozam, rebaixam os outros com a sua diferença. E no resultado disto tudo temos o racismo e a xenofobia.
“Ah!, isso no nosso país não existe”; “Somos acusados de racismo, mas esses pretos são mais racistas que nós. Por isso não me peçam para não ser racista” – É este, o pensamento de muita gente neste país. Mas para quem quiser abrir os olhos e olhar à sua volta vê que as coisas não são bem assim. Desprezamos os chineses, os ucranianos, os pretos, e até os nossos irmãos.
Vivemos num tempo em que só o nosso EU importa. Os outros são indiferentes. “Que se virem que eu também me virei!” E isto acontece muitas vezes entre nós, cristãos. A nós, que nos foi ensinado a amar o próximo, somos os primeiros a por de lado esta gente, a atribuir-lhes o mal do mundo.
Refilamos e tentamos compreender para que vêm eles para o nosso país. Mas, quantos do nosso amado e querido país, também não se encontram nos países estrangeiros? Achamo-nos donos do mundo só porque, há quinhentos anos descobrimos meio mundo. Mas também é verdade que vendemos tudo, por ganância, ou não, perdendo tudo aquilo que era nosso. Se deixou de ser nosso, muito bem, então baixemos o nariz e reconheçamos que somos do pequeno país da ponta da Europa, a que muitos chamam de Espanha.
Mas enervam-me, e muito, os queridos patriotas que por fora deste país andam, e têm vergonha de dizer: EU SOU PORTUGUÊS! Até a língua nos tiram, dizendo que é bem melhor a língua daquele povo que muito aprendeu com os Lusitanos.
Dizia um amigo meu, e transcrevendo à letra, passo a citar:
«Tou farto de alguns patriotas. Nem sei o que me faz escrever estas palavras, mas faço-o com gosto, porque escrevo na minha língua, desse país longe e perto, para onde voa a minha mente quando me abstraio e de onde nunca saiu nem sairá o meu coração.
Em França é que é, dizem uns. Não não, na Suíça é que é.
Outros dizem: Dizeis isso porque não viveis na Inglaterra...
[…]
E vêm dizer-me a mim: 
- Que devíamos juntar-nos a Espanha? Porquê? Porque têm o Nobel da literatura de 1998?

- Que na "France" é que é? Porque não há cunhas?
- Que a Suíça é democrática (tendo em conta as notícias que denunciam racismo e xenofobia)?
- Que a justiça funciona na Inglaterra e nos outros países da OCDE?»


Diferenças existem, existiram, e sempre existirão. É necessário é ter em conta essas diferenças, saber viver com elas.
Respeitá-las, se queremos que respeitem as nossas. Termos orgulho no que somos e não colocarmos as nossas origens no estrume, refilando infinitamente, sem tomarmos alguma atitude.



Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

sábado, 15 de janeiro de 2011

Naquele banco de jardim... - II

O vento, soprando muito de leve faz dançar todas as folhas, flores e árvores.
Cai de leve, a pétala de uma rosa negra. Pousa suavemente no chão, misturando-se com ele.
Estou sentado no banco de Jardim, vendo todos estes acontecimentos. Segundos que parecem demorar horas.
Foi aqui que me encontrei comigo mesmo, quando tentava fugir de mim mesmo.
Agora estou aqui sentado, esperando que ele chegue. Dentro do meu coração uma inquietude começa a surgir. Tenho medo deste segundo encontro.
Eis que ao longe surge uma silhueta. Reconheço aquela silhueta. Como poderia não reconhecer? É a minha.
O sol não brilha no céu, pois as nuvens tapam o seu brilho.
O meu eu senta-se a meu lado, recomeçando tudo, sem ter perdido o “fio à meada”.
A linha da minha vida é resumida a poucos minutos.
Mas o meu eu parte sem me dar respostas, deixando-me pensativo.
Sozinho, com todos os meus pensamentos, que tanto me perturbam.
Levanto-me para seguir viagem, voltar a “enterrar” os pensamentos, a apaga-los com as leituras.
Mas, tomando a decisão mais difícil para mim, volto a sentar-me. É tempo de resolver os problemas do meu coração, de tomar um rumo diferente.
Sento-me, penso e choro. Confronto os fantasmas que há muito tempo me importunam.
Levanto-me, e renasço. Sou um homem novo.


Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Naquele banco de jardim...

Sentei-me num banco de jardim, lendo um pouco de literatura inglesa.
Absorvido pela leitura, fiquei indiferente a tudo o que se passava à minha volta.
Transeuntes passavam, aves poisavam, carros passavam, mas era-me tudo indiferente. Só a leitura me interessava.
No meu pensamento surgiam imagens do que lia, como se estivesse a assistir a um filme. À minha maneira criava as personagens, os espaços onde a acção decorria. Dos movimentos às palavras.
As palavras voavam à minha frente, e as páginas pareciam-me conter poucas palavras. Capítulo após capítulo, devorava e captava toda a essência das palavras daquela fascinante literatura.
De um momento para o outro, via-me no espaço da acção. Por vezes como uma lente, um observador invisível. Outras, no papel do narrador, participando, tomando parte da acção, encarnando em si. Deixava o meu mundo e vivia num mundo ilusório!
Deixei-me refugiar neste mundo onde, para mim, tudo era perfeito.
Alojei o meu pensamento, o meu coração na literatura. Nas palavras encontrei o consolo.
Mas os livros não são eternos, e a última folha acaba sempre por ser virada. E volto ao meu mundo onde tudo o que me era indiferente, passou outra vez a ser marco na minha vida.
De novo procuro um novo livro para ler. Mas algo me fez parar. Uma voz, a consciência, o pensamento.
Vejo e tomo consciência disso. Esta situação não me ajuda. Simplesmente adia o encontro comigo mesmo.
Tenho adiado este encontro, procurando ter o meu pensamento sempre ocupado ou com leituras ou estudo. Deixei de ouvir a voz e tornei-me o contrário de Samuel.
Fechei-me sobre mim mesmo, tornando-me um lobo solitário, que procura a cada dia afastar-se o mais possível do contacto humano. Mesmo no meio deles, procuro o silêncio, o refúgio em mim.
Fechei-me na minha casa, no quarto mais distante e escuro. De lá só saía para comer e resolver assuntos urgentes.
Na escuridão passava maior parte da minha vida, procurando adiar o encontro comigo mesmo.
Mas fui surpreendido quando menos esperava.
Quando um dia me vi obrigado a sair do meu refúgio, do meu forte, e me sentei num banco de jardim a ler, novamente indiferente ao mundo, alguém se sentou a meu lado.
«Não tinha mais bancos onde se sentar!», pensei. Mas não tirei os olhos do livro, continuando atento à minha leitura.
Terminei o capítulo e olhei o mundo. Olhei o que se passava à minha volta. Olhei o meu companheiro de banco e, nesse preciso momento, o meu coração disparou, o livro estatelou-se no chão, e eu fiquei sem reacção. Via-me a mim mesmo, como se me visse a um espelho.
Não sei se era real ou fruto da minha imaginação, mas encontrei-me ali, naquele local, comigo mesmo.




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A morte de Ivan Ilitch

A publicidade dos dias de hoje passa pela atracção. Ouvimos nas rádios anúncios que nos fazem rir de tanta estupidez. Na televisão coisas impossíveis. Nos livros, capas maravilhosas.
E, na verdade, é isso que nos atrai. Compramos muitas vezes um produto porque na televisão falam dele; um livro porque tem um título chamativo e uma capa fabulosa e que, muitas vezes, nada tem a ver com o seu conteúdo.
Para mim sempre foi fascínio as navalhas de barbear antigas. De um desenho simples a uma eficácia enorme.
Quando, aqui há uns anos, saiu um filme sobre um barbeiro (Sweeny Todd), logo me fascinou. Não só pelas navalhas, mas também por ser um musical.
Estes dias, depois de entrar numa livraria, e olhando os destaques e novidades, encontrei um livro que a sua capa era simplesmente uma navalha de barbear. Logo fui absorvido pela tão dita atracção publicitária. Quando peguei no livro para ler a pequena sinopse da parte de traz do livro, deparei-me com o nome do autor: Lev Tolstói.
Há muito que andava decidido em ler algumas das suas obras, mas não tinha encontrado nada até então.
Eis que a oportunidade tinha surgido. Tinha na minha frente o livro de um autor que procurava e a capa com a navalha.
Comecei a ler o livro, que não tem mais de 95 páginas (91 para ser mais preciso), e deparei-me com um tema que, para uns de nada importa, para muitos é um tema delicado: a morte.
Mas este livro é diferente. Nele não há suicídios, nele não há morte de actores secundários. A morte é a da personagem principal, e o livro fala do seu sofrimento às portas da morte.
Nunca tinha lido nada igual; algo de tão fascinante.
Hoje em dia virou moda os livros sobre vampiros e coisas do outro mundo.
Mas Tolstói é diferente: ele fala do sofrimento de um homem que toda a sua vida foi justo; um homem que não se deixou corromper pelo dinheiro, pela fama nem pelo poder de que ele era proprietário; de uma pessoa que gostava de sorrir.
Fala-nos da solidão de um homem ao morrer, das perguntas que ele põe a si mesmo. Um reviver a vida em alguns dias, horas e ver que tudo foi em vão e que agora, no leito da sua morte, se encontrava verdadeiramente sozinho.
A minha fascinação pelo livro levou-me a que, em menos de vinte-e-quatro horas, o conseguisse ler.
António Lobo Antunes diz-nos que:
«Este livro tão breve, uma das maiores obras-primas do espírito humano, tem sido, desde a sua publicação, um motivo de controvérsia para a crítica: trata-se de uma obra sobre a morte ou uma obra que nega a morte?»
Deixo-vos, assim, esta bela sugestão que se encontra a um preço bom.


Como podem ver, o tempo do Natal acabou, mas Deus-Menino permanece no nosso coração. Assim, a imagem de fundo do meu blog também mudou, bem como as suas cores.


Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Cidade fantasma...

Entrei pelas muralhas na esperança de encontrar uma cidade movimentada, como há muito não encontro.
Nas muralhas nem guardas nem vigilantes. Apenas uma velha porta entreaberta.
Abro a porta e deparo-me com um túnel. Ao longe, no fim do túnel, uma luz brilha, impossibilitando-me de conseguir ver para além dela.
Percorro em direcção à luz, esperando o contacto com as pessoas. Há cerca de um mês que não falo com ninguém, não vejo ninguém. Tenho andado a vaguear pelos desertos, conhecendo o que todos dizem ser igual.
Muitas vezes penso ter-me perdido, andado em círculos, sem ver alma viva.
Cheguei a delirar. Há quem tenha ilusões de Arens. Mas eu não. Cheguei a pensar que tinha visto um belo rapaz. Cabelos loiros, estatura média e com um grande cachecol pelo pescoço. Pelo aspecto parecia um pequeno príncipe. Mas quando me abeirei dele, ele desapareceu.
Finalmente encontrei rumo, e cheguei a estas muralhas.
O meu coração está num estado de perturbação enorme. Necessito de contacto com pessoas.
Chego ao fim do túnel com a cabeça cheia de pensamentos.
Depois de me adaptar à luz não vejo ninguém nas ruas. Penso que estarão recolhidas nas suas casas por alguma ocasião.
Começo a subir pela cidade e não vejo sinal de pessoas. Grito, tentando chamar a atenção das pessoas, mas o meu grito parece não fazer efeito.
As portas das casas estão abertas. Outras fechadas. Janelas partidas, casas sem telhados, cadeiras e mesas derrubadas. Ruínas. Tudo o que vejo são ruínas.
Procuro pelos campos, esperando encontrar alguém, mas volto a fracassar.
Entro pela velha igreja que se encontra abandonada. Os santos foram derrubados, os castiçais jazem junto dos santos. Começa a subir por mim um medo terrível e procuro com os olhos o Sacrário: até esse foi vandalizado.
Sinto-me desgostoso. Precisava do contacto com alguém, e a única cidade que encontro, encontra-se abandonada e perdida na história.
Não mais tenho forças para continuar a minha busca. Estou a tornar-me num animal; um ser sem sociabilidade.
Cai-o por terra inconsolável.
Junto a mim está a imagem de um santo. Olho para ele e ponho mãos à obra. Tento colocar tudo nos locais que me parecem próprios. Vem a noite e com ela a escuridão e as estrelas.
Procuro na minha velha mochila, que está agora gasta pelo tempo e pelas areias dos desertos, pelo isqueiro. Acendo as velas que, depois de pouca luz, começam a arder como já antes tinham ardido. A igreja está agora iluminada.
Volto à velha mochila e tiro o meu caderno e a caneta.
Sento-me na porta da velha igreja a olhar as estrelas, a olhar o meu passado, meditando no meu futuro.
Começo a escrever no caderno que se tornou a minha única companhia.
“Hoje entrei naquela que pensava ser a minha salvação, mas a desgraça já tinha passado por ela. De tudo o que aqui vi, só me resta a palavra solidão para o descrever. Tudo caiu na solidão; tudo ficou abandonado pelo tempo. De nada mais me resta fazer aqui. Vou partir.”
Depois de escrever estas palavras, fecho o caderno, coloco-o outra vez na mochila e faço-a de minha almofada.
A lua surge no céu para me velar a noite.
Adormeço, esperando que isto não passe de um pesadelo.



Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

domingo, 9 de janeiro de 2011

Baptismo do Senhor

Hoje celebra a Igreja o Baptismo do Senhor.
João Baptista, que baptizava nas margens do rio Jordão e anunciava a vinda do Salvador, clamando pela conversão dos homens, recebe a visita de Jesus que lhe pede que O baptize.
Eis que João Lhe diz: “Eu é que preciso de ser baptizado por Ti e Tu vens ter comigo?” Mas Jesus diz-lhe que se deve cumprir toda a justiça.
Então João pegou em água e baptizou o Senhor.
Quando o Homem-Deus saiu da água, os céus abriram-se e o Espírito de Deus desceu em forma de pomba sobre Ele. E uma voz vinda do céu disse: “Este é o meu filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência”.
Este é o começo da vida pública de Jesus. Também Ele começou por ser baptizado com água, como acontece nos tempos presentes em que, no início da nossa vida cristã, somos baptizados com água.
De hoje a dois meses, começará a Quaresma que findará no dia 24 de Abril com a ressurreição do Senhor.
Durante este Tempo Comum, e depois também na Quaresma, até ao Tríduo Pascal, conheceremos toda a vida pública de Jesus.
Mas, neste dia de hoje, é-nos mostrada a importância do baptismo para o cristão. Se Jesus, no início da sua vida pública, foi baptizado, também todo o cristão o deve ser.
Contudo, hoje em dia, o baptizado é só um rito no meio de tantos outros. Já não se baptiza por querer que os filhos façam parte da grande família, mas sim para se ter uma festa, uma grande festa. Quantas vezes não assistimos nós a baptizados onde cerca de 50% dos convidados passa a celebração no café ou fora da Igreja?
Bem, posso estar a exagerar, posso estar a globalizar, mas isto acontece nos dias de hoje. Infelizmente é assim.
Gostaria de partilhar convosco também um texto que me pareceu grandioso.
Durante a semana que passou, enquanto preparava a catequese, surgiu-me um texto das bem-aventuranças dos tempos actuais. É um texto um pouco ou tanto esquisito, mas que nos deixa a pensar.
“Felizes os que promovem a guerra e a discórdia, porque fazem fortuna com a desgraça alheia.
Felizes os que insultam, caluniam e sobre o nome dos outros lançam lama, porque jamais serão responsabilizados.
Felizes os que são ricos, porque nada lhes falta.
Felizes os que roubam, fogem aos impostos e não declaram os seus rendimentos, porque jamais serão punidos.
Felizes os maldosos e os mentirosos, porque semeiam a confusão e escapam sempre.
Felizes os que comem e bebem em excesso, porque aproveitam a vida.
Felizes os que perseguem e maltratam, porque são donos e senhores do mundo.
Felizes os que exploram, porque alcançam os seus objectivos.
Felizes os agressivos e brigões, porque a eles ninguém incomoda.
Felizes os que possuem um título académico, porque todos os respeitam.
Felizes os que são importantes e famosos, porque todos os admiram.
Felizes os que matam, porque sabem defender-se.
Felizes os que seguem todos estes preceitos de modo exemplar, porque revelam um profundo desrespeito pela vida.”
Dá para pensar, não?




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Exigir!

Finda-se o tempo do Natal. Vivem-se as últimas horas deste tempo que nos acompanha há umas duas semanas. Este tempo, que começou com uma preparação (o Advento), finda com a festa do Baptismo do Senhor, que se celebra no próximo domingo.
Também o Aquele que baptiza com o fogo foi baptizado com água, mas, e uma vez mais, falarei sobre isso no tempo próprio.
Hoje falo-vos da exigência nas amizades.
Bem, as amizades por vezes são complicadas. E quando falo em complicadas refiro-me a exigir e a cumprir o que nos exigem.
Para quem não sabe, as amizades são, por vezes, um processo de exigências que são colocadas entre as duas pessoas.
Por vezes, e algumas muito frequentes, exigimos de mais. Exigimos que o outro esteja onde nós queremos, que esteja sempre a nosso lado, que, e passando a expressão, sejamos donos dele.
Contudo essa perspectiva está errada. Não devemos exigir de mais. Devemos, isso sim, saber exigir. E essa exigência passa por exigirmos que o outro seja melhor; que o outro seja o melhor possível.
Não podemos é esquecermo-nos de que, quando exigimos, temos de ter já atingido o ponto a que queremos que o outro chegue.
Quando se fala em exigência, por vezes, é no sentido mau da palavra. É bom exigirmos algo das pessoas: exigirmos algo de bom; exigirmos que, por vezes, nos façam crescer quando, e isto só em último caso, não somos capazes de crescer por nós próprios.
Por isso, não exijam mais do que devem.




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Dia de Reis

Depois de cumprida a promessa que Deus tinha feito pela boca do profeta, «Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel», chegou a altura de se cumprir o que estava escrito:
«E tu, Belém, terra de Judá,
de modo algum és o menor entre os clãs de Judá,
pois de ti sairá um chefe
que apascentará Israel, o meu povo».
Assim, «tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes», uns magos vindos do Oriente chegaram a Jerusalém onde procuram pelo «rei dos judeus recém-nascido». Estes magos tinham visto uma estrela e assim vinham homenageá-lo.
Sabendo da vinda dos magos, Herodes mandou chamá-los para assim obter mais informações, pedindo-lhes que assim que soubessem do paradeiro do Menino que o informassem, para que também ele O pudesse homenagear.
Guiados pela estrela que lhes tinha aparecido, seguiram caminho. Mas a estrela parou e eles encontraram o Menino. Alegrando-se profundamente.
Dos seus cofres tiraram ouro para um Rei, incenso para uma divindade e mirra para a paixão.
A adoração dos magos simboliza o cumprimento dos oráculos messiânicos a respeito da homenagem que as nações prestariam ao Deus de Israel.
Bem, o resto da história já vós sabeis: os magos foram avisados em sonhos para que não voltassem para junto de Herodes.
Hoje, dia seis, é o dia dos Reis Magos. Os nossos irmãos espanhóis celebram esta festa com grande fogosidade. É neste dia que eles trocam os presentes, relembrando os magos.
Assim, e de modo especial hoje, deixo uma mensagem aos nossos irmãos na sua língua:
¡Que los Reyes os tragan muchos regalos y que el Niño Jesus os traga muchas felicidades!”







Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Vida!

Estou sentado à secretária onde à minha volta, espalhadas em inúmeros montes, estão as folhas com os rascunhos da minha vida.
Ligaram-me, à cerca de meio ano, a pedirem que escrevesse um livro: um livro de memórias.
Comecei por escrever uns rascunhos, fazer uma linha do tempo da minha vida.
Marquei o ano de 1990 no início desta linha.
Revirei a minha mente para recordar a minha vida. Contudo as minhas primeiras memórias remontam a quatro anos depois do meu nascimento. E, o dia que me lembro, sem precisar nenhuma data, é o dia em que entrei para a pré-escola.
Mas na minha mente surge o dia do meu baptismo. Não o recordo e seria praticamente impossível se me lembrasse. Tinha pouco mais de um mês quando entrei na maior família de todas. Mas o que sei desse dia é unicamente o que me contaram.
Na pré-escola andei cerca de dois anos. Este foi o local do aprofundamento dos meus primeiros ensinamentos que vieram dos meus pais e do meu irmão.
Durante dois anos fui preparando o caminho para as verdadeiras amizades, sem saber o que o destino me destinava.
Entre aquelas quatro paredes conheci o meu mundo. Ali tive a primeira paixoneta: aquelas paixões de criança.
O tempo foi passando, talvez mais rápido do que eu desejava.
Chegou a altura de abandonar a pré-escola e seguir com o caminho que todos deviam seguir: a primária.
Ao toque do sino foi altura de começar aquela que viria a ser a altura que mais me marcou em toda a vida.
Três anos ali estudei, naquela casa que por fora era igual a tantas outras daquele tempo.
Mas para mim era diferente. Naquela casa estudava também o meu irmão. Para mim era uma segurança, uma completa paz e felicidade.
Naquela sala, onde ainda existia um crucifixo por cima do quadro, onde ainda existia um estrado onde se encontrava a secretária da professora, os alunos tinham as "carteiras" em formas de U, para que nenhum estivesse voltado de costas para o outro. No canto da sala existia uma cadeira, virada para a parede.
Naquele espaço aprendi o A, B, C. Aprendi os números. aprendi a ler, escrever, a matemática e o estudo do meio. Ali tive as primeiras lições de música e canto, que tanto me fascinam.
Como eu, tantos se formaram naquelas salas. Como eu muitos receberam as primeiras bases. Como eu muitos se formaram gente.
Desde cedo comecei a ler, pois para além do estudo que tinha nas aulas, em casa também o tinha.
Em conjunto com o meu irmão, li as primeiras histórias infantis. Diante dos meus pais, acolhendo as suas correcções, declarei os meus primeiros versos.
Ainda sem os perceber, sem conseguir tirar uma mensagem deles, lia-os.
Com a minha professora aprendi a escrever com o tipo de caneta com que agora escrevo estes rascunhos.
Devido à grande quantidade de alunos, o meu quarto ano foi passado no ciclo.
Nesse ano conheci o espaço onde estudaria, como eu pensava, mais dois ou cinco anos. Dois porque queria ir para o liceu quando findasse o sexto ano; cinco, caso não conseguisse entrar no liceu.
Contudo, algo interrompeu o percurso da minha vida.
Foi no mês de Outubro que tudo aconteceu. Nesse mesmo mês, o meu coração foi roubado. Naquele dia informei os meus pais da minha vontade. Não sei se era segunda ou terça, se era sábado ou domingo. Não sei.
Daquele mês em diante a minha vida seria diferente. Eu já não era o mesmo jovem. Era um jovem sonhador, com uma nova aventura prestes a começar.
Difícil foi a despedida dos velhos companheiros. a eles jurei nunca mais os esquecer. E não esqueci. Poderia agora ainda inúmera-los a quase todos. Anabela, Ângelo, Ricardo, Ana Maia, Gil, Catarina, Nicolau, Liliana, Simão, entre tantos outros...
Uma nova escola iria enfrentar. Novos companheiros iria fazer...
Quatro anos foi o tempo de viver nessa escola. Quatro anos magníficos.
Esse tempo também foi o tempo de viver na velha casa. Tempo de crescer, aprender e de me formar.
Novamente foi tempo de mudar, durante mais três anos. Tempo de renovação, de fazer crescer tudo do zero, novamente.
Agora aqui me encontro, a findar a linha do tempo, pensando em como ela findará!



Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Lar

Estou sentado no meu quarto, onde não chega mais barulho: está tudo tão silencioso. Há minha volta não existe mais barulho, não existe mais nada: só o velho sofá, a velha mesa, o balão do whisky e o companheiro de longas horas: o cachimbo.
Uma vez mais divago pelos pensamentos que ocorrem no meu pensamento. Olho as velhas paredes da minha casa que tanto ouviram os meus gritos. Ao contrário do que se canta, eu contei às minhas paredes os meus sofrimentos; a elas me confessei; delas fiz o meu diário.
Imagino que, se elas falassem, teriam tanto para contar. Se tivessem olhos, saberiam mais da minha vida que eu próprio.
O meu Velho e triste fado foi sempre passado entre estas paredes. Elas foram companheiras de muita alegria, de alguma dor e desilusão. Nelas coloquei a minha vida, na forma de fotos, quadros e recordações.
Serão elas as únicas a ver o meu último suspiro, a amparar-me na minha morte, sem saberem como.
Certamente, depois de assistirem a toda a minha vida, assistirão à vida de muitos outros, como assistiram aos que estiveram antes de mim. E no dia em que, por acidente ou sina, deixarem de existir, com elas também eu e os que junto a elas construíram a sua vida, deixarão de ser recordados.
Com elas morrerá toda a nossa história. Com elas seremos nós também deitados por terra.
Mas no dia em que alguém passar pelas ruínas desta casa, relembrará que ali alguém foi feliz: quem não se sabe ao certo.
Gostaria de relembrar o dia em que elas foram levantadas, o dia em que uma nova alegria se gerou. Contudo é-me impossível recordar esse dia, pois quando inspirei o sopro da vida, já ela existia e já nela se criavam vidas.
Agradeço a Deus por não me deixar ver cair esta casa, por não me dar a visão desta casa em ruínas.




Ad majorem Dei gloriam!
Ismael Sousa

domingo, 2 de janeiro de 2011

De volta a casa!

Iº Domingo do ano civil, VI do ano litúrgico.
Celebra hoje a liturgia o Domingo da Epifania, o dia em que os Magos visitaram o Menino. Mas sobre isso falarei no próprio dia!
Hoje findam as férias e é tempo de voltar a casa. E já sabeis que quando me refiro a casa, significa seminário.
Tivemos cerca de quinze dias para descansar, restabelecer as forças e as energias, matar saudades da família e dos amigos e passar o Natal com os seus.
Contudo é chegada a hora de voltar para mais uns dias de estudo e assim terminar o primeiro semestre.
Depois será tempo de exames e o novo semestre.
Mas, por agora, é tempo de voltar a ver os amigos que não são vistos desde o velho ano, retomar as aulas e os estudos, retomar a rotina.
Assim, e desta maneira, desejo a todos um bom recomeço das actividades!



Ad majorem Dei gloriam!

Ismael Sousa

sábado, 1 de janeiro de 2011

Liberdade religiosa, caminho para a Paz!

Mais um ano começou!
Muitas mensagens correram pelos telemóveis dos portugueses; muitos desejos foram formulados.
À meia-noite, muitos foguetes rebentaram no ar, muitos beijos e abraços!
O momento por que tanto esperavam surgiu: o ano 2011 já aí está. Com ele veio o aumento do IVA, do combustível, a redução dos ordenados, etc. Mas não podemos desanimar e estes acréscimos não nos podem deixar viver um ano de infelicidade.
São ao todo 12 meses, 365 dias, 8.760 horas para se viver intensamente, com horas de alegria e tristeza, momentos de companhia e solidão!
Parece estranho estar a desejar momentos de solidão e de tristeza, mas todos sabemos que a vida não são só rosas, que também existem alguns espinhos e são estes espinhos que nos formam como Homem/Mulher!
Mas que os momentos de "rosa" sejam mais que os de "espinhos".

Para além do primeiro dia deste novo ano, hoje também é dia de Santa Maria, Mãe de Deus! Para a Igreja Católica é dia de dar graças a Deus pela Mulher que foi capaz de dizer sim a Deus perante tantas adversidades.
O mundo celebra também o XLIV (44º) dia Mundial da Paz.
Para este dia, sua Santidade o Papa Bento XVI, deixa, à disposição de todos, a sua mensagem para este dia (podeis ler a mensagem aqui).
Gostaria de fazer uma análise sobre esta mensagem, mas temo cair no erro de não o fazer correctamente e transmitir algo que não seja de minha vontade!
Assim sendo, farei apenas uma pequena "expressão" do primeiro ponto desta mensagem de sua Santidade, intitulada por "Liberdade religiosa, caminho para a paz".
Assim, e transpondo em breves linhas, Bento XVI, no início deste novo ano, deseja "fazer chegar a todos e cada um" os seus votos de "serenidade e prosperidade, mas sobretudo votos de paz."
Numa referência ao Iraque, sua Santidade transmite a todos os que ouvem/lêem a sua mensagem, o quanto custa àqueles e àquelas que vivem em tribulações por causa da sua religião.
Sem deixar de referir os cristãos que morreram na catedral siro-católica de «Nossa Senhora do Perpétuo Socorro» em Bagdad no dia 31 de Outubro de 2010, que ali se encontravam para celebrar a Santa Eucaristia, o Papa agradece "aos governantes que se esforçam por aliviar os sofrimentos destes irmãos em humanidade" lançando as bases para criar um laço de oração por estes irmãos que não podem professar livremente a própria religião.
Numa contínua explicação das várias formas de opressão, Bento XVI exorta, no fim do ponto primeiro, "aos homens e mulheres de boa vontade a renovarem o seu compromisso pela construção de um mundo onde todos sejam livres para professar a sua própria religião ou a sua fé e viver o seu amor a Deus com todo o coração, com toda a alma e toda a mente".
Os catorze seguintes pontos desafio-vos a lerem e, quem sabe, a partilharem.
Findo assim, renovando os meus votos de Ano Novo, lembrando a que não se esqueçam de continuar a aquecer o Menino dentro do vosso Coração.



Ad majorem Dei gloriam!

Ismael Sousa